Pela metade
Gosto de ir ao supermercado fazer compras, principalmente quando tenho quem possa me ajudar. O momento de passar pelo caixa é tenso; tirar as coisas para a leitura do código de barras, colocar novamente dentro de um segundo carrinho, organizando em caixas, repetir o gesto quantas vezes necessário até que todos os itens de um carrinho já tenham sido apresentados, lidos os respectivos códigos de barra e devidamente posicionados dentro do segundo carrinho e, ao mesmo tempo, pagar, receber o ticket, apresentar na saída do supermercado, fica bem mais fácil se é tudo feito em equipe.
E foi assim que, no dia de todos os santos fomos meu irmão, sua companheira e eu até o supermercado para fazermos compras tanto para eles quanto para mim. Uma alegria e muita praticidade, porque meu irmão dirigiu o carro dele, enquanto eu só tinha que me preocupar em me lembrar de tudo que eu tinha que comprar para minha casa, uma vez que não tinha tido tempo de preparar uma listinha com os itens. Já a companheira do meu irmão não me deixou carregar nada; ela fez todo o serviço pesado por mim.
Depois de estar tudo devidamente organizado no porta-malas do carro de meu irmão, chegamos em minha casa e, para descer as caixas com as compras foi tudo muito rápido. Tanto que os itens que precisavam ir direto para a geladeira, porque são altamente perecíveis, nem descongelaram. Depois deles, que têm mais urgência em serem guardados, os demais nem eram para eu ter guardado no mesmo instante em que chegamos em casa, mas já que eu tinha ajuda, achei por bem seguir com a organização, começando por separar o que era para a casa do meu irmão e o que deveria ficar na minha.
Após termos separado e identificado o que era de quem, comecei a colocar nos devidos lugares os itens de minha residência, os quais havia acabado de comprar. Havia pensado que poderíamos fazer um lanche na sequência e, com isso, peguei as minhas caixinhas de chá (eu adoro tomar chá!) e fui abrindo uma e depois a outra, para separar os sachês num suporte específico para tal.
Uma surpresa nem tão boa assim me esperava logo na segunda caixinha que abri, contendo sachês de um chá de cidreira, laranja e limão. Cada embalagem deve conter 10 sachês – pelo menos é o que vem expresso na embalagem. Daí a minha surpresa, presenciada tanto por meu irmão quanto pela companheira dele, quando constatei que, dentro da caixa lacrada que eu acabara de abrir, somente cinco (a metade!) sachês foram encontrados.
Foi a primeira vez nessas minhas pouco mais de seis décadas em que comprei e paguei por um produto, mas recebi somente a metade dele. A pergunta óbvia que minhas duas testemunhas me fizeram foi para saber se eu queria voltar ao supermercado para reclamar do ocorrido. Um direito garantido a mim como consumidora, já que estava na posse de um ticket de compra que provava que eu havia saído do estabelecimento poucos minutos antes, pois ele fica relativamente próximo de minha casa e, também, que aquele chá havia sido comprado ali. Entretanto, eu abrira a caixinha pelo lacre e já havia até jogado-a na lixeira de resíduos secos.
Titubeei por alguns segundos antes de me decidir e optei por não retornar ao supermercado. Achei pouco frutífero investir tempo e conversa com o gerente por causa de cinco sachês a menos. Porém, algo me incomodou sobremaneira e foi o fato de eu ter encontrado a caixinha lacrada. Eu confiro data de validade nos produtos que compro e, com isso, também se o recipiente está íntegro, ou seja, sem amassamento se é lata, sem abertura se é uma caixa, contendo o lacre se tem tampa superior etc. E, em relação às caixinhas de chá compradas no dia de todos os santos, o procedimento havia sido o mesmo. Todavia, em casa, após a constatação do meu prejuízo ao pagar por 10 e receber apenas 5, eu me dei conta de que alguém naquele estabelecimento “fez um vale” e suprimiu o vestígio dessa ação ou, então, o controle de qualidade para esse tipo de chá está deixando muito a desejar.
Alguém consumiu por mim, antecipadamente, os meus cinco sachês pagos naquele dia. Ou deveria dizer que os consumiu para mim ou para qualquer outro cliente que fosse “premiado” de forma negativa com essa redução proposital (?) de produto? Comecei a divagar, chegando a me lembrar de um artigo que escrevi e publiquei em 2001, na área de português para estrangeiros, no qual eu discutia exatamente o emprego das preposições “por” e “para”. E, mais de duas décadas depois, a minha incerteza sobre qual a melhor a ser empregada para o meu caso em especial.
Mas este texto não é para discutir gramática. É para deixar a todo e qualquer consumidor mais atento no ato da compra, porque depois que a gente chega em casa fica bem mais complicado reclamar sobre esse tipo de situação em especial. Pagar por uma caixinha que deveria ter 10 sachês, mas ter para consumir somente a metade, que foi o que constatei na presença de duas testemunhas, é chato, eu sei. Mas o pior mesmo é ter consciência de que mesmo tendo o direito de ir novamente ao supermercado reclamar do ocorrido, sempre poderia pairar na mente do gerente do estabelecimento a dúvida sobre as minhas palavras e as das minhas duas testemunhas se de fato estaríamos falando a verdade ou, simplesmente, querendo nos dar bem, ou seja, querendo levar algum tipo de vantagem.
Então fica a dica: sopese a caixinha! Se eu tivesse feito isso, talvez desconfiasse de que ela estava bem mais leve que outra semelhante a ela. Quem sabe, ela seria aberta ali dentro do supermercado mesmo e o gerente então fosse acionado? Vamos que coincidisse com a hora do lanche e eles estivessem a fim de consumir um chá de cidreira, laranja e limão, não é mesmo? Porque uma caixinha com apenas a metade dos sachês não poderia ser colocada à venda!
MoBa NePe Zinid – 11 nov. 2025.

Cara Mônica, diante de uma história de frustração como essa, do seu constrangimento perante sua cunhada e seu irmão, e da impossibilidade de restabelecer a justiça ou a devida reparação, acredito que só lhe restou uma alternativa “para” superar tamanha indignação: tomar um chá.
Afinal nem no dia do Congresso Anual de Todos os Santos, nem com Jorge São, o guerreiro ali, em pessoa, ao seu lado fazendo suas compras do mês, seu irmão, você ficou imune às flechadas dos desígnios cruéis do destino, pois ele nada pode fazer “por” ti.
Se Deus escreve certo por linhas tortas, é possível que os Santos que não são das Letras e da escrita, como seu irmão Jorge – talvez não escreva tão bem quanto você –, conheça outros caminhos alternativos e tortuosos, o dos líquidos, que assim como nos cursos dos rios circulam em nossas veias provocando sensações, pensou em sugerir-lhe tomar uma “cerveja gelada na esquina”, acreditando que assim você “espantasse o mal” que lhe afligia. No entanto deve ter se contido e por isso sugerido voltarem ao supermercado em busca da reparação (a caixa inteira e não pela metade), e assim não induzir-lhe à fuga da ira pelas vias alucinógenas.
Mas é assim, nosso mundo está cheio de injustiças.
Em 25 de janeiro de 2019, às 12h28m. – mais ou menos no horário em que escrevia esse comentário –, assistia à tv quando fui surpreendido com as imagens da avalanche de lama que arrastaria mais de 270 vidas humanas e outras que nunca saberemos, e devastaria boa parte de uma cidade. Era o crime/tragédia de Brumadinho.
Nenhuma indenização fez/fará justiça, essa que na Terra só Vale para os poderosos.
No dia 28 de outubro recente, uma operação dos órgãos de segurança do Rio de Janeiro, promoveu o maior massacre de supostos criminosos do Comando Vermelho. Pelo menos 50% daqueles que perderam a vida não tinham mandato de prisão, e muitos nem ficha criminal, apenas moravam no Complexo do Alemão e da Penha.
Pesquisas mostram que a chacina tem o apoio de 67% dos brasileiros. Acredito que para eles Vale a máxima: “Bandido bom é bandido morto”. Lembro que no Brasil – pelo menos na Constituição -, não temos a Pena Capital.
O governador do Rio, que liderou a chacina, está envolvido no desvio de R$500 milhões da CEPERJ e UERJ (“Foram contratadas pessoas que não moravam no estado do Rio de Janeiro. E há notícias até de pagamentos para presidiários, funcionários fantasmas e servidores públicos com acumulação de cargo indevido”). Foram quase 30 mil servidores contratados ilicitamente, ou seja, sem concurso público. Eles recebiam os pagamentos em espécie e na boca do caixa. Dinheiro foi utilizado na compra de votos na eleição de 2022. Diante dos fatos, se Valesse a regra/lei do “Bandido bom é bandido morto” na Carta Magna, Cláudio Castro (filhote do demônio/genocida) deveria começar a chacina por ele mesmo. Será que os 67% dos brasileiros (maioria de cristãos e espíritas) concordariam com isso também? Acho que não. Penso que eles diriam, parafraseando o filme: “O Inferno pode esperar”, deixa o Castro terminar o serviço sujo “pra nóis Queiróz”!
Portanto, diante do voto pela cassação do mandato de Cláudio Castro, proferido pela Ministra Isabel Gallotti, seu colega de Tribunal Antonio Carlos (infelizmente Ferreira), talvez atendendo às demandas de 67% dos brasileiros, do demônio e do inferno pediu vistas, assim adiando, postergando ou protelando ato de justiça tão importante.
Recentemente vi esta notícia: “Jovem presa injustamente por 6 anos morre de câncer dois meses após ser absolvida por júri no RS. Damaris Vitória Kremer da Rosa, 26 anos, teve pedidos de revogação da prisão negados pela Justiça. Ela morreu 74 dias depois de ser considerada inocente por júri.” Durante o período em que esteve presa ela teve negado por diversas vezes o pedido por prisão domiciliar, em razão de sua grave doença (câncer no colo do útero).
O demônio/genocida que demorou 3 anos para ser julgado e condenado pela tentativa de golpe (a meu ver deveria já ter sido condenado há muito mais tempo pelas 700 mil vidas perdidas na pandemia), por meio de sua defesa pediu prisão domiciliar. Ele está com soluço. Acho que é porque com essa ‘doença’ ou com esse mal ele não conseguiria na cadeia imitar um paciente com falta de oxigênio, como fez na pandemia quando ocupava a cadeira de Presidente.
Neste país onde quase 90% se diz cristão ou espírita (56,7% católicos, 26,9% evangélicos e 2,8% espíritas), onde o genocida/demônio (responsável “por” pelo menos metade das 700 mil vidas perdidas na pandemia) teve 58 milhões de votos, a contradição, hipocrisia, e por que não dizer, o cinismo se desvelam, explicitam e saltam aos olhos.
Claro!… De quem quer enxergar.
Agora “para” relaxar com “x” e com a preposição, um bom chá – que se grafado com x poderia tirar o sono de muita gente (o Português é um inferno, um pesadelo, mas não é mais terrível que as injustiças e tormentos da sociedade) –, e mais uma indicação de música que, além da minha revolta, inspirou a minha falta de noção/limite. É essa minha mania de sempre escrever torto por linhas retas, afinal não sou santo, nem no dia em que todos são, sou humano, sou mundano, “sou do mundo, sou Minas Gerais”. Mas não foi essa do Lô que me inspirou, foi outra.
O Rappa – não o Rafa – diria: “O chá pra curar esta azia / Um bom chá pra curar esta azia / Todas as ciências de baixa tecnologia / Todas as cores escondidas nas nuvens da rotina”, podem ser observadas “por” você e “por” seus gatinhos e gatinhas do seu belo quintal, naquilo do “Que Sobrou Do Céu”. Dizem que é lá que estão os Santos e Deus.
Ouça e veja o vídeo da música do Rappa:
https://www.letras.mus.br/o-rappa/28942/
Um abraço,
Rafael.
Rafael,
nome de anjo! Ou seria melhor dizer arcanjo?
Vai-se saber!
Seu texto é uma prova de que ainda existe quem se sinta motivado pelas palavras alheias, quem goste de ler e “replicar” com outras tantas palavras!
Sou sempre grata por sua presença neste meu espaço de compartilhamento de minhas pequenas coisas cotidianas, pois sinto que “sou do mundo”, embora eu saiba que sou mesmo é Minas Gerais!
Você sendo você, politizando o meu chá, faz eu querer ser mais pontual às 17 horas, embora não seja britânica. O que eu quero dizer é que gosto de tomar meu chá no final da tarde, tranquila e serenamente, mesmo ciente de que o mundo está de ponta-cabeça.
Preferia não tomar o chá e ter o mundo em uma mansuetude e que trouxesse junto os anjos (arcanjos) para tocarem suas harpas e fazerem nossos sonhos serem mais reais que imaginários: um mundo sem mortes violentas; um lugar ao sol para cada trabalhador; dignidade ou vida digna para todo e qualquer cidadão; democracia plena, ampla, geral e irrestrita.
Enfim, voltando ao chá, respondo que tomei não apenas no Dia de Todos os Santos, mas também no Dia de Todos os Mortos, já que estão ali, agarradinhos, nem que seja pelo calendário essa proximidade conflitante.
Uma vez mais, grata por sua brilhante intervenção. Você sempre faz eu me sentir útil ao escrever minhas poucas palavras.
Receba meu abraço cordial, minhas boas energias e os votos de uma excelente continuidade de semana!