Perdi o calo
Recentemente, olhando de forma mais detida para a minha mão direita (sou destra), eu me dei conta de que perdi o calo que trazia ali por décadas, em meu dedo médio. Era um calo saliente e se destacava à esquerda do dedo tal e qual meu joanete se exibe à lateral do meu dedão (o grande artelho, como é tecnicamente conhecido!) do pé direito.
Fiquei por muitos minutos admirada por eu não haver me dado conta há mais tempo de que eu, de fato, não mais trago essa minha marca particular e que esteve presente comigo desde que comecei – aos 5 anos – a fazer as minhas primeiras linhas de cópias mal traçadas sobre cadernos fornecidos pelo Ministério da Educação nos anos 60.
Não ter mais esse imprescindível acompanhamento da minha escrita, trouxe-me, de uma certa forma, uma melancolia; uma nostalgia da época em que escrever este texto, por exemplo, seria sobre uma folha pautada, esparsa ou ainda integrando algum dos meus cadernos.
De repente, eu me dei conta de que faz um bom tempo que não escrevo uma carta ou qualquer texto usando papel e caneta; sequer escrevo um bilhetinho, seja para alguém de dentro de casa, como um de meus hóspedes, minha irmã ou minha auxiliar; ou, então, para alguém de fora de casa; nem mesmo a anotação do meu número de telefone se faz mais necessária há alguns anos…
Dia desses, encontrei dentro do supermercado uma ex-colega de trabalho, lá dos anos 90 e, qual não foi a minha surpresa, ao vê-la sacar de dentro da bolsa o celular e começar logo a digitar meu nome e o DDD 31, pedindo-me que dissesse a ela o meu número do celular, que ela me mandaria um “Oi” e, depois disso, já começaríamos a nos comunicar com a frequência que estabeleceríamos. Sem papel e muito menos caneta, mas mesmo assim, nesse encontro fizemos o necessário para reatarmos os antigos laços.
Fico imaginando a nova geração, ainda mais presa à digitação que eu, ao se deparar com a necessidade real de escrever algo em torno de umas 25 linhas numa prova qualquer… Deve dar dor no punho e, claro, dormência nos dedos, desacostumados da ancestral forma de documentar um texto: manuscrevendo.
Perdi o calo e, na ausência dele, pude ver o alinhamento do meu dedo médio, antes parecendo acometido de uma artrite ou de uma artrose próxima da porção distal desse dedo, ou seja, pertinho da articulação (ou junta). Era uma marca registrada de minha constância na escrita em sala de aula e, também, fora dela. Era até mesmo motivo para eu me sentir orgulhosa e poder mostrar pra minha mãe, o tanto que eu havia escrito naquele dia…
Enfim, calo no médio não trago mais. Busco agora, formar calos nas pontas dos dedos da mão esquerda, devido às cordas de meu cavaco. Mas demora um pouco mais para que sejam robustos e condizentes com um aprendizado digno de ser elogiado.
Agora, o que me resta mesmo, e bastante robusto, é o calo na língua, quando os irmãos se encontram e disparamos a falar sem parar! Rs.
MoBa NePe Zinid – 04 maio 2025.
Esse calo é de família. Kkkkk. Eu que sei.
É verdade, minha irmã! Rs.
Uma semana com boas energias para todos aí!
Beijo no coração!