Blog

Que caminhos percorreu?

Quem me conhece ou apenas me acompanha por aqui, neste blog, sabe que tenho gatos e que os amo muito, não é mesmo? Isso é a mais pura verdade. Inclusive, já contei aqui a história da Princesa e seus cinco tecidos. Hoje, venho contar mais precisamente sobre um dos seus filhotes, ao qual dei o nome de Brim.

Brim é um tecido forte, resistente, normalmente, usado em roupas que vestimos para trabalharmos. Eu escolhi esse nome para esse filhote (à época), exatamente por causa da personalidade forte dele, pois ele me mordeu um polegar para entrar no transportador e o outro para ser retirado dele, assim que chegamos em minha casa. E esta foi a única vez que ele passeou em um transportador. Depois disso, nunca mais consegui colocá-lo em um.

O fato de não poder transportá-lo até o veterinário, fez com que Brim ficasse no grupo dele, mas diferente dos demais, uma vez que não consegui jamais medicá-lo, não é castrado e apenas vive na companhia do grupo, aparecendo quando vai comer ou beber água limpa. O restante do tempo, dorme ou dormita nas partes altas do quartinho de ferramentas ou se esconde pelo quintal.

Ao atingir a fase adulta (após os 6 meses), ele começou a chamar as fêmeas e a burlar minha vigilância, assim como passou a transpor os obstáculos que impus aos gatos do quintal, por meio de telas sobre muro e folha de zinco nos troncos das árvores, evitando escaladas e escapadelas. Exceto para Brim, que conseguiu a peripécia de passar por todos esses bloqueios e ir até a rua, no ano passado, o que lhe resultou em uma ferida por unhada no lugar correspondente à escápula esquerda.

Apesar de inúmeras tentativas de medicá-lo direta ou indiretamente, chegando eu ao absurdo de agendar visita ao veterinário em nome dele e comparecer sozinha para conversar com o veterinário e pagar pela consulta, a ferida foi só aumentando e me deixando alarmada. Tentei sedá-lo por meio de medicação manipulada, com sabor peixe, colocada no meio de guloseima afim, mas quem disse que Brim se deixou enganar e comeu? Na segunda lambida, ele fugiu, largando o preparado que, segundo o veterinário, seria suficiente para deixá-lo adormecido até chegar à clínica, indicando, inclusive, que pusesse no piso, para evitar a queda do animal, o que poderia causar algum tipo de lesão.

Enfim, o tempo seguiu e a ferida, por força da própria natureza do animal, começava a cicatrização, mas ao ocorrer a retração da pele e o ressecamento, devia coçar e o bicho enfiava as unhas da pata traseira, rasgando e arrancando a casca do início de cicatrização, provocando um aumento na extensão daquilo que, inicialmente, era uma unhada de briga na disputa por uma fêmea. A extensão da ferida chegou perigosamente a mais de 6 centímetros de diâmetro, aproximadamente, levando-me a uma preocupação tão grande, que me apeguei a todos os santos que conheço para que a cicatrização se efetivasse.

Não sei dizer se a minha fé foi tanta, que Brim se contorcia mais para lamber quando coçava, em vez de enfiar a unha. Além disso, sempre que eu o via esboçando o movimento de “dar uma pedalada” e enfiar as unhas na bendita ferida, eu ralhava com ele, que fugia de mim e, com isso, não arrancava a casca do início de cicatrização.

Oito meses foram transcorridos desde o surgimento da unhada, que ele recebeu em briga externa ao lar, mas aos poucos eu ficava mais e mais otimista, mentalizando que a ferida secaria e ele ficaria curado. Tudo isso com o pensamento positivo e a confiança em todos os santos que conheço. Mas, no sábado passado (o último de julho), enquanto eu aguardava a chegada de um hóspede vindo de Divinópolis, para vir passar as férias escolares aqui em casa comigo, ao chegar na varanda, eis que me deparo com nada mais, nada menos, que Brim no chapéu de muro na frente da casa, espiando as escadas que dão acesso imediato ao portão (de grade) que comunica com o passeio da rua.

Imediatamente, peguei meu celular e filmei a estripulia do bichano que, mesmo eu dizendo a ele que não pulasse, é óbvio que ele pulou. Também lhe disse que não fosse pra rua e ele, de fato, não foi, mas não porque me obedecesse. Simplesmente por pressentir que a motocicleta que parou e buzinou poderia lhe causar algum dano. Com isso, ele caminhou na frente da casa, pelo jardim, sob minha vigilância a uma certa distância.

Assim que Brim subiu no muro que faz divisa com a vizinha de baixo, ele passeou pelo cobogó e saltou para o telhado da minha casa. Em questão de poucos minutos, eu o escutei saltando no corredor já pelo lado de dentro da casa, sob a janela do meu quarto. Eu passei rapidamente por dentro e, ao chegar nos fundos, ao pé do fogão a lenha, ali estava ele, todo lampeiro, já deitado e me espiando com ar de santo.

Respirei aliviada e voltei para aguardar a chegada de meu primeiro hóspede desse período de férias escolares de instituição com calendário sendo ajustado após período de greve. O hóspede chegou e a rotina foi parcialmente alterada. Todavia, no domingo, logo pela manhã, Brim esteve presente na hora da distribuição da guloseima matinal. E foi a última vez que eu o vi até a manhã deste domingo, o primeiro deste mês.

Durante esses oito dias de sumiço de Brim, eu só conseguia pensar nos perigos aos quais ele estava exposto, sobretudo por ele ser um gato criado aqui dentro de casa desde filhotinho, com a mãe (de quatro patas), os quatro irmãos de mesma ninhada e, verdade seja dita, “debaixo da saia” da tutora, porque eu sou igual a uma leoa quando se trata de proteger meus bichinhos.

Fixei meu pensamento novamente na frase de uma camiseta minha, que diz: “Tudo que começa com fé, termina em milagre”. Tentava vislumbrar um bando de filhotinhos de Brim, circulando pelas ruas do bairro daqui a alguns meses, todos com o carão quadrado dele, rabo peludão, mistura de cores, embora não seja uma fêmea, o que contraria aquilo que muitos dizem, que é o fato de três cores na pelagem significar que se trata de fêmea, e não de macho.

De vez em quando, nesses oito dias em que eu computava quatorze gatos em casa, em lugar de quinze, sentia um aperto muito grande no peito, pensando que se ele tivesse sido morto seria melhor do que estar ferido e desassistido. Pensava nele com fome e com sede. Mas logo me lembrava que, pelo bairro (aqui é, de fato, uma “bolha”!), tem quem coloque vasilha de água e vasilha com um pouco de ração, do lado de fora das casas, no passeio público e que, com isso, ele não precisaria morrer de inanição ou de sede.

Mesmo quando os pensamentos positivos superavam os negativos, eu me lembrava da movimentação de ônibus e de outros veículos na rua de cima do próprio quarteirão onde moro e entristecia. Mas a semana passou voando, já que estou na árdua tarefa de preparar estudantes para exame de proficiência. Com isso, o fim de semana chegou e eu nem percebi que já era domingo novamente. Quando, ao abrir a porta dos fundos para distribuir a guloseima matinal para o grupo do quintal, eu me deparei com uma agradável surpresa, surgiram um misto de gratidão e alegria sem tamanho, pois vi Brim junto à mãe e aos irmãos.

Miando mansamente e ainda com bastante fome, quiçá um tanto quanto emagrecido, mas não posso afirmar, já que não consigo pegá-lo e, por conseguinte, não teria como sopesá-lo para comparar com o que antes lhe correspondia em quilogramas. Entretanto, o que mais me surpreendeu positivamente, foi ver que no lombo, no lugar correspondente à antiga ferida, na escápula esquerda, um sinal de quase total cicatrização, sequer uma casca para ele arrancar com as unhas, mas uma nova pele acinzentada, já começando a ser coberta por uma pelagem e um ar de que não restará mais que uma singela lembrança de que um dia (ou durante alguns meses) houve naquele lugar uma ferida!

Deus não apenas opera milagres, mas consegue suplantar todas as nossas expectativas e provar, constantemente, a veracidade do “escrever certo por linhas tortas”. O que eu quero dizer com isso é aquilo que simplesmente pude deduzir. Enquanto esteve por oito dias na rua, Brim tinha muito mais com que se preocupar do que com o “pedalar” para arrancar a casca da ferida.

Que caminhos ele percorreu nesses oito dias em que esteve longe do lar, eu não sei, somente imagino. As ruas do bairro têm muitos gatos (de rua mesmo), têm cães (acompanhados de seus tutores ou não), veículos em velocidades às vezes incompatíveis com a região residencial, inclusive. Existem pessoas sem consciência, que ousam maltratar animais. Pode haver falta de água e comida, embora haja quem oferte bondosamente aos animais passantes defronte suas residências; e, principalmente, oito dias de total “abandono” provocado pelo instinto, que suplanta toda e qualquer segurança, fazendo Brim ir buscar fêmea(s) mesmo em face de todos os perigos que a rua representa.

Neste espaço hoje, o que mais quero registrar é a minha gratidão pelo retorno de Brim ao ambiente que lhe é familiar e acolhedor. Ele já se alimentou bastante, bebeu muita água e agora repousa tranquilamente dentro de uma caixa de papelão sobre um banco de jardim que balança, mas não cai. Esta é, de fato, uma história com final feliz! Obrigada, meu Deus!

MoBa NePe Zinid – 03 de agosto de 2025.