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Reformas

Quem me conhece ou apenas me acompanha por este blog, já deve ter percebido que eu falo bastante sobre a minha casa. Tenho trazido alguns momentos nela, sobretudo, as reformas dela.

Mais uma vez, as reformas serão o foco de minhas reflexões, porém, irei mais longe. Vou retornar ao ano de 1992, quando adquiri o meu primeiro imóvel, um apartamento do tipo casa geminada, num bairro próximo de onde resido hoje. Tão perto, que eu vinha a pé com a minha cachorrinha Sunny e, depois, com o cachorro London, visitar a minha mãe e o meu tio (irmão dela) que moravam onde hoje eu resido.

Assim que eu me mudei para esse apartamento, descobri que a parede do banheiro do vizinho do apartamento 01 (o meu era o 04) fazia divisa com o meu quarto e, logo, logo, os problemas de infiltração começaram a dar os seus primeiros sinais. Fiquei em pânico, pois as minhas roupas de cama e as de uso diário saíam úmidas do meu guarda-roupa. O armário lindíssimo que ainda existia lá quando eu vendi o apartamento em 2015, só foi idealizado por mim e feito por um engenheiro florestal que morava nas vizinhanças, algum tempo depois de eu ter resolvido o problema da infiltração.

Eu resolvi, não! Resolveram pra mim. E quem fez um excelente trabalho que segue válido e posso dizer perene, já que foi feito há 30 anos e não surgiu mais nenhum problema de infiltração – pelo menos não do lado do apartamento 04 –, foi um pedreiro à época indicado por um colega de trabalho meu. Esse pedreiro que chegou em meu apartamento numa manhãzinha, veio muito bem recomendado. Aquele tipo de pessoa que nos dizem: “Pode entregar as chaves de sua casa e sair despreocupada!”. E foi assim que sempre agimos desde então. Ele ficava com a chave da minha casa e eu ia resolver as minhas coisas, enquanto ele fazia as que lhe competiam.

Naquela primeira reforma, ele chegou, subiu até o meu quarto e inspecionou a parede com infiltração e me ouviu dizendo que se tivesse que ter algum problema, que fosse do lado do apartamento 01. Que se a água dos banhos tivesse que causar infiltração, porque o proprietário daquela época não se preocupava em rejuntar os azulejos, que estes caíssem por lá, mas eu não queria umidade naquela minha parede de jeito nenhum!

Começou o serviço. Eu vi os tijolos da parede raspadinhos e o início do trabalho de isolamento e impermeabilização. Poeira pra todo lado. Azulejos nas paredes do quarto todo (que ficou lindo!) e, finalmente, o serviço terminou. Não sem eu ter aprendido alguns ditos, umas modinhas, umas falas divertidas e ter firmado, definitivamente, uma nova e boa amizade!

Mas eu saí daquele imóvel próprio e fui morar de aluguel com meu marido. Tempos depois, quando eu estava vendendo um Celtinha azul que eu tinha, tive o privilégio de reencontrar com esse senhor que, naquela oportunidade, levou o cunhado (irmão da esposa dele) para adquirir o meu veículo. Ambos conheceram o meu marido, tiveram um dedo de prosa com ele, e o negócio foi fechado na confiança, saindo ambos lá da casa no bairro Serra, já na posse do carro. O pagamento foi devidamente efetivado conforme combinado, logo depois.

Os anos foram passando, meu marido teve câncer e veio a falecer em poucos meses, o que me levou a me mudar da casa alugada onde eu morava, pois era muito grande e me gerava muitas despesas, que já não se justificavam mais, como manutenção de piscina, área de churrasqueira que eu nem usaria mais para as reuniões semanais que ele e eu costumávamos fazer. Enfim, foi pouco antes de me mudar que eu comecei a me preparar para vir para essa casa velha onde moraram minha avó, depois meu tio e, por último, minha mãe com o meu tio.

Claro, como vocês já sabem, casa velha requer melhorias para que se tenha boas condições de uso. Fiz uma avaliação da necessidade de reforma, sobretudo no barracão dos fundos, que também apresentava infiltração devido à proximidade da construção do imóvel vizinho e do vão de uns 10 centímetros que foram deixados entre as duas paredes, conservando muito a umidade das chuvas.

Bem, não há dúvida que eu localizei a pessoa de minha mais alta confiança para assumir o serviço. Foi com o filho, já bem crescido nessa época, e com alguns agregados que ele já tinha para um trabalho mais ágil, que o senhor Valter retornou para atender às minhas demandas.

Nem preciso dizer que o barracão dos fundos ficou irreconhecível depois do belíssimo trabalho que executaram ele e sua equipe. Paredes recobertas por azulejos muito bem assentados, piso impecável, rejunte que jamais me deu problema. Porta do quarto – que hoje é de hóspedes – deslocada do meio da parede para uma extremidade, para melhor aproveitamento do espaço interno do cômodo.

O banheiro, que hoje é parte da minha biblioteca, foi remodelado, ampliado de 1m X 1m para quase o dobro disso, com mudança de lado da porta de acesso, que deixou de ser de madeira e passou a ser de vidro e corrediça. Inserção de uma pequena janela típica de banheiro. Revestimento impecável, como sempre foi a qualidade do serviço que ele me prestava e, sinceramente, a qualquer cliente dele, porque nos últimos tempos eu tinha que ficar esperando meses na fila para ser atendida!

E a laje que colocaram para gerar uma varanda simultaneamente atendendo aos dois barracões dos fundos? Piso combinado com o usado na casa da frente, largura ideal para esticar rede. Na verdade, virou praticamente outra casa. Quem conheceu na época em que meus parentes viveram aqui e vê hoje, sobretudo depois da mais recente reforma, nem reconhece.

Esse homem, sempre alegre e comunicativo, veio novamente em 2021, para começar a terceira reforma de minha casa velha, chegando aqui na manhã do dia 21 de junho com a equipe. Por pouco mais de 3 meses, eles me fizeram quase enlouquecer com a poeira, o barulho e a bagunça, mas também me alegraram com a cantoria, com os risos, com as brincadeiras saudáveis e, sobretudo, com o profissionalismo e a honestidade que sempre imperaram no trato com todos. Seu Valter veio com o filho mais velho (que eu conheço desde menininho), com um sobrinho (cheio das tecnologias para assentar azulejos; usando laser e música no mesmo aparelho!), alguns amigos e o café na garrafa, que sua esposa Judith ou ele mesmo preparava antes de sair cedo de casa para vir pra incumbência de transformar uma casa velha e mal planejada na área dos fundos, em um espaço de convivência e de futuras reuniões alegres como as (infelizmente poucas) que pudemos ter ouvindo-o declamar: “Tomo café porque é doce. Vou na casa das velhas por causa das moças!”.

Sempre preocupado em atender, mas também deixar a marca de suas ideias, não se privava de me falar o que lhe ia na mente. Mesmo que não fosse algo diretamente relacionado ao trabalho em si, tinha um momento para uma conversa amena. Inclusive, para falar da Pandora, a filhotinha preta gerada pelo London, com uma cachorrinha sem pedigree da vizinhança. Explicou-me triste o quanto havia se empenhado em salvar a vida da cachorrinha, mas não teve jeito; ela morreu por envenenamento. O pesar era pelo animalzinho ao qual já havia se afeiçoado e também pela tristeza dos netos que não teriam mais o bichinho para as brincadeiras de criança.

Embora já fosse avô, Seu Valter ainda trazia um quê de criança em seu coração amigo. Assentado no madeirame do telhado enquanto trabalhava, conversava com todos, ria e brincava. Quando estava com os pés no chão, pegava um graveto e passava na rede de proteção dos meus gatos e brincava com eles, rindo e falando do quanto esses bichinhos são espertos.

Assim eu vou me lembrar sempre dele! Seu Valter viveu com a alegria e o desprendimento que o serviço pesado e o seu cotidiano não o impediam de demonstrar. A honestidade que trazia consigo, transmitiu aos filhos. Também ensinou a muitos outros que a reforma mais importante não é a externa, a aparente, mas a interior. Foram muitas as reformas pelas quais ele passou ao longo da vida, a qual viveu com dignidade e carisma. Que a reforma interior e visível apenas para nós possa tocar a todos que com ele conviveram.

Recebam, todos da família, amigos (alguns eu tive o privilégio de conhecer e com eles conviver) e ex-clientes, meu muito obrigada por me permitirem conviver um pouco com esse homem humilde e sábio. Paz e luz ao Senhor Valter, que nos deixou 04-01-2023.

Belo Horizonte, 13 de janeiro de 2023.

MoBa NePe Zinid