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Resolvi filosofar…

Resolvi filosofar. Hoje. Justo hoje, um dia tão atarefado quanto os demais. Lalá, apelido carinhoso pelo qual é tratada minha amiga que é formada em Filosofia, que me perdoe, mas vou assumir um posto que é seu.

Passei o dia todo trabalhando e pensando no significado da (minha) vida, da vida (do outro). Por que nascemos? Por que vivemos? Por que morremos? Por que alguns morrem jovens ainda, enquanto outros morrem velhinhos, mas bem velhinhos mesmo… Algo acima dos 100 anos?! Sou kardecista e a doutrina responde a cada uma dessas perguntas. Porém, hoje, resolvi filosofar e é com essa visada que vou prosseguir.

Por que algumas sociedades comemoram a morte e choram quando alguém nasce? E por que em outras é exatamente o contrário? Em que momento decidiram ser diferentes entre si? E por quê?

Tentei voltar ao momento em que isso começou a me rondar no dia de hoje e descobri que a palavra que me levou a pensar tudo isso foi “cachoeira”. Uma palavra tão simples. Bonita, inclusive. Tem som de água escorrendo quando se fala de forma mais sibilante…

Mas foi precisamente essa discreta e, algumas vezes, sonora palavra, que me levou a buscar alguns sentidos para a vida de cada um de nós.

Na verdade, essa palavra tirou-me o sossego hoje, uma sexta-feira de um dia tão ativo quanto os demais da semana, mas especificamente, um dia bastante atribulado pelas atividades extra que não havia previsto que teria que realizar, mas acabei tendo que…

Enfim, voltando ao filosofar, voltando à palavra poderosa que mexeu com o âmago do meu ser, posso afirmar que ela trouxe à minha mente visões e contextos que, por certo, eu não queria reviver, mas fui levada a fazê-lo.

Cachoeira abriu em mim uma comporta que estava reprimida. Não, eu não chorei. Eu descobri que sou um ser pensante e que posso me tumultuar com milhares de pensamentos emaranhados, embaralhados, sem um caminho único e seguro para seguirem e serem armazenados na memória de longo prazo e por lá ficarem indefinidamente, ou melhor, até que a morte nos separe: a mim de meus pensamentos. Sim! A morte tem esse dom de livrar-me dos meus pensamentos [novamente lembrando: pelo Kardecismo, não!]. Então, eu aqui, nesta sexta-feira (que ainda não sextou pra mim!), repleta de elucubrações trazidas por uma inocente (?) cachoeira.

A torrente que foi despejada no meu dia trouxe a morte de um jovem ganense em 2021; trouxe alguns cadáveres examinados em lugares aprazíveis, mas que levaram vidas de várias idades para o plano espiritual; revelou a irresponsabilidade de grupos que brincam em pedras escorregadias e geram pessoas paralíticas (nos anos que ainda lhes restam de vida); mostrou que não saber nadar nem sempre é a segurança para não sofrer algum tipo de acidente (fatal ou não) em uma cachoeira.

O som da água seguiu escorrendo em meus ouvidos, como se gritos de almas perdidas nos rincões de Minas, estivessem resvalando a tênue cortina que nos separa do mundo em que elas se encontram; como se clamassem pela companhia de seus companheiros que estão vivos aqui, nesta terra seca e árida, enquanto elas, almas penando, estão eternamente molhadas nas águas que as acolheram. 

Enquanto tudo passava em minha mente ocupada, meu coração sentia uma enorme tristeza por não poder intervir no destino de cada uma dessas pessoas que fez a sua passagem para o outro lado da cachoeira; desses seres agora espirituais que, talvez, tenham as respostas a todas as minhas perguntas filosóficas, as quais, dadas as circunstâncias, prefiro permanecer na ignorância de suas essências.

Que eu simplesmente possa, ao dormir, lembrar-me uma vez mais dessas almas e lhes dirigir uma prece sincera e lhes dizer que sonhem comigo, já que os meus pensamentos se voltaram para elas. 

MoBa NePe Zinid – 18 mar. 2022