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Somos plantas de Deus

Gosto muito de observar as coisas ao meu redor. Desde criança sou assim. Estive observando muito as plantas de minha casa nos últimos tempos e, de repente, me veio um estalo na cabeça, daqueles que fazem lembrar madeira crepitando em fogo bem pegadinho no fogão a lenha.

Esse estalo foi logo depois de haver falecido a mãe de minha vizinha. Uma senhora que viveu a vida longamente e partiu aos 92 anos, tendo sido nos últimos tempos cuidada pela filha. Pouco depois, faleceu o pai de uma amiga. Ele partiu aos 95 anos. Fui ao velório de ambos. Porém, há poucos dias, também faleceu um amigo muito querido e, infelizmente, ao velório dele eu não compareci pelo simples fato de ter sido avisada por amigo em comum já muito em cima do horário de finalização das exéquias.

Enfim, nesse acumulado de partidas foi que eu me vi fazendo a associação que para mim pareceu ter tudo a ver: somos plantas de Deus. Talvez, por isso, a passagem bíblica que diz que somos pó e a ele retornaremos, a qual implica a interpretação religiosa de que teríamos sido moldados no barro, seja mais um motivo para eu aceitar esse meu pensamento: as sementes precisam da terra para a germinação, para brotarem e se desenvolverem.

É bem verdade que há algumas que ficam meio que “hibernando” por muitos e muitos anos. Quando um imóvel é demolido, sob o local onde um piso existiu por algumas gerações, eis que surge uma planta verdinha e esperançosa de que outro piso não a impeça de receber a luz solar.

Mas, parando para pensar bem, faz bastante sentido, para mim, ser o embrião, que é o nosso início como filhos de Deus, chamado por alguns de sementinha, não é mesmo? Quando nascemos, há quem diga que vimos a luz nascer. Tudo bem, já sei: há quem nasça cego e não veja a luz solar. Mas as plantas também não têm esse privilégio…

Se somos bem alimentados com o leite materno – seiva que nos dá força e vitalidade nos primeiros meses para termos a nossa imunidade em dia –, crescemos fortes e saudáveis. A plantinha também: se ela recebe adubo, irrigação adequada, poda quando necessário, proteção contra as pragas (dependendo do tipo de planta e do local onde estiver), certamente essa planta será um exemplar digno de foto para uma enciclopédia como ilustração da espécie!

Algumas plantas se isolam em lugares inóspitos. Certas pessoas também; são os chamados ermitões. Há plantas que sufocam às da mesma espécie e querem se dar bem em busca do melhor lugar ao sol; há seres humanos iguaizinhos… Há plantas que dependem de subir em alguma maior e mais forte para terem o de que precisam: água, luz e nutrientes vários. Existem pessoas que são tal e qual, pois precisam de quem as leve daqui pra ali, as nutra com os alimentos diários e lhes garanta a alegria de viver, despertando-as dia após dia e, com isso, permitindo-lhes continuarem o ciclo vital desde bebezinhas.

Há plantas que, por mais que sejam bem tratadas, recebam água, luminosidade adequada, adubo de primeiríssima, ainda assim não se dão bem no ambiente em que se encontram. Dizem que é a má energia do lugar, à qual elas são sensíveis. Tem até a expressão “seca pimenteira”, que é quando alguém muito carregado negativamente põe a mão em uma pimenteira que, por mais linda e bem viva ela esteja, em menos de 24 horas a planta murcha todinha e morre; e não há como recuperar a dita cuja. Pois existem pessoas que, dependendo do ambiente em que se encontram, definham e vão ficando fraquinhas, fraquinhas… Se não se livrarem do convívio ou mesmo unicamente do espaço físico, podem ter um troço e morrerem de uma hora pra outra.

E o que falar daquelas plantas que precisam da presença dos insetos para a sua polinização, senão elas não se reproduzem? Não deve ser à toa a frase que nós humanos costumamos dizer: “Estava borboleteando por aí?”. Eu diria que, em se tratando de reprodução, há plantas autossuficientes que soltam os seus próprios pós mágicos que farão com que nova plantinha surja em terreno fértil. Daí que as produções independentes podem se associar e muito bem com elas!

Quer agradar a uma pessoa querida? Leve uma flor para ela! Quer agradar a um amigo ou a uma amiga? Vá visitá-lo(la) e passar um tempinho com ele(ela)! Vai alegrar a essa pessoa e tornar o seu dia mais florido.

Daí que eu pensar que somos as plantas de Deus, não configurou algo tão fora de propósito assim, pois se Deus tem um cuidado todo especial por nós, podemos seguir vicejando e frutificando por muito tempo, seja em que âmbito for: família próspera, abastada, sucesso profissional, êxito nos estudos e por aí vai. Mas se trata de uma via de mão dupla, já que temos que estar atentos a esse cuidado que recebemos de Deus! Não podemos simplesmente abandonar aquilo que Ele elegeu para nós como sendo a nossa melhor opção. Se somos frágeis e sensíveis a certos ambientes, que tal evitar? Assim garantiremos uma melhor qualidade de vida.

Seguindo esse mesmo raciocínio, se não sabemos nadar, que tal evitarmos os perigos que a água pode significar em nossa vida, levando-nos, inclusive, a morrermos afogados caso não mantenhamos o devido cuidado? Se a escassez de água pode nos matar por desidratação, o excesso também nos eliminaria do jardim celestial.

Nós, seres humanos, temos um excelente poder de adaptação; podemos seguir com vida em várias situações adversas. As plantas também. Há plantas que permanecem meses sem uma gota de água de chuva no deserto, sendo especialistas em armazenar o que necessitam para seguirem estação após estação. Tem plantinha que surge numa fresta pedregosa e até floresce, alegrando a quem a vê! Tem planta sem uma casa para harmonizar; tem gente sem casa para morar. Tem planta em lamaçal, onde existem pessoas pescando caranguejos; tem planta dependurada, como se estivesse de ponta-cabeça; os trapezistas fazem a mesma coisa como sustento de vida…

Há pessoas que usam a expressão “Fulano(a) está vegetando!”, associada a um estado de coma, por exemplo, devido à impossibilidade de se comunicar do doente, comparando-o às plantas; por estar sem mobilidade o enfermo. Mas, neste último caso, é a prepotência do ser humano que o faz traçar esse tipo de paralelo, já que há plantas que têm tropismo – seja ele positivo (respondendo a um estímulo) ou negativo – e, claro, há sementes que se deslocam impulsionadas pelo vento ou “pegando carona” nos pelos dos animais ou nas vestes dos racionais.

Apesar de haver a possibilidade de um emprego ou uma associação negativa com as plantas ou o que elas significam para nós, nesta minha reflexão, preferi usar as expressões de cunho positivo. Tais como duas de que tão bem se lembrou um amigo: estar na flor da idade e ser maduro, as quais são também associações inegáveis com o reino vegetal, são positivas e valorizam aos seres vivos, sejam plantas ou humanos. Assim como também o é a expressão muito comum que usamos para perguntar de onde é uma pessoa ou se ela está arraigada a determinado lugar ou cultura: “Quais são as suas raízes?” ou “Já fincou raiz onde está?”.

Estou ciente das diferenças e mantendo as devidas proporções. O que faço é mero exercício de analogia. Bem o sei que nós, humanos, assim como os demais do reino animal, não realizamos fotossíntese; não processamos a celulose; nossa “seiva” é outra, distinta daquela do reino vegetal. Todavia, pensar em um ser superior cuidando de nós, diariamente, enche o meu coração de alegria e alimenta a minha fé.

E, claro, quando uma flor do jardim de Deus ou uma planta em sua plantação preferida deixa de existir, certamente, a semente do que foi ou significou essa pessoa para cada um de nós, que com ela conviveu, hiberna em nosso coração, pois assim foi previsto pelo maior “jardineiro do Universo”!

MoBa NePe – 17 de maio de 2023.