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Souvenirs

Desde a mais tenra idade que eu gosto de comprar lembranças nos lugares que visito. Os elefantes e as borboletas são a minha predileção. Todavia, não me cerceio a uma escolha livre de vários e diferentes tipos de adornos para a casa, sobretudo.

Na época das vacas magras, as lembrancinhas preferidas são as miniaturas, pois estas me encantam! Quando não há tanta restrição, já me dou ao direito de escolher um quadro ou algo que seja um pouco mais custoso. É claro que os diferentes estilos nas peças que representam elefantes, principalmente, chamam bastante a minha atenção e, normalmente, acabo comprando-as.

Falar em compras faz-me parecer muito consumista, algo que procuro controlar em mim cada dia mais. Desde antes do isolamento social que eu já não chego à casa com as mãos ocupadas com várias sacolas. Mas as viagens exercem sobre mim um fascínio indescritível. E não estou me referindo tão somente às viagens internacionais. Estas são, de fato, algo particular em termos de experiência com a arte que se deixa conhecer nos centros de artesanato; falo também das viagens nacionais e dos recantos por este Brasil afora, onde me reconheço ainda mais brasileira.

Viajar de carro sempre foi uma grande aventura para mim. Meu marido e eu tínhamos um planejamento para quando ambos estivéssemos aposentados, que era passarmos seis meses em viagem de carro, num comboio com casais amigos e dispostos a fazerem parte da nossa aventura que se pretendia bastante ousada: iríamos até o Panamá e, de lá, retornaríamos, percorrendo todos os países da América do Sul. Uma aventura e tanto, não é mesmo? Infelizmente, meu marido faleceu há 10 anos e nosso sonho se foi com ele.

Mas nesse período, tive a oportunidade de ir ao Chile – de carro – duas vezes e, claro, foram aventuras, companhias, carros e experiências diferentes… Cada cidade brasileira por onde passei e pude parar para uma refeição, um abastecimento ou uma hospedagem para seguir viagem, trouxe-me um souvenir para recordar aquele momento. Fosse por meio de uma aquisição de um bichinho ou qualquer outro adorno, fosse pela lembrança de uma pessoa que adoraria receber determinado enfeite de presente ou, mesmo, uma fotografia da paisagem naquele exato momento.

Ai!… As fotos me cativam e, ao mesmo tempo, são a minha recordação mais drástica, mais intensa, pois eu sou descontrolada para fazê-las. Desde o advento das fotografias digitais, que sou sem noção quando se trata de perpetuar momentos para recordá-los depois e manter uma lembrança eterna de um passeio, um novo lugar que foi descoberto ou uma imagem qualquer…

Ao reunir as mais de 5 mil fotografias da minha primeira ida de carro ao Chile, quando tive a oportunidade de conhecer o norte daquele país, passear pela região desértica e chegar até San Pedro de Atacama, pude rever um filme em minha mente. É como se as recordações daquela viagem tivessem as comportas abertas e, com a enxurrada de imagens, as emoções retornassem fortes e incontroláveis. Não sei dizer se é um bom souvenir, pois eu não o utilizo com a mesma frequência com que acesso ao acervo fotográfico da segunda viagem, também de carro, ao mesmo país.

A minha segunda ida percorrendo estradas e montanhas, incluindo-se a cordilheira para transpor, passou por Bariloche antes de ingressar propriamente no Chile e, na volta, camionete carregada com os itens de minha mudança de retorno ao Brasil, depois de uma permanência relativamente longa naquele país, foi em companhia de um de meus irmãos por parte de mãe. Revezávamos na direção, pois pelas manhãs eu era apenas a copiloto e, à tarde, eu assumia a condução da camionete; já à noite, buscávamos onde nos hospedar para seguirmos viagem no dia seguinte.

Foram ao todo 11.200 quilômetros percorridos e recheados de pequenas lembrancinhas que incluem artesanatos de três países, cada qual com as suas peculiaridades. Uma vontade louca de conseguir enfiar mais alguma coisinha linda num veículo lotado e no qual mal cabiam os dois passageiros! Tanto que nem pudemos trazer os tão apreciados vinhos chilenos e argentinos, infelizmente!

Mas as fotografias da última longa viagem de carro são comparáveis àquelas que fiz nas duas idas à África Ocidental. São imagens que me trazem boas lembranças e, quando associadas às peças artesanais que encontrei pelo caminho e pude adquirir, trazem-me uma boa sensação. A de que fiz parte daqueles lugares pelos quais caminhei, nos quais estive, mesmo que de forma efêmera e, ao passar por ali, integrei as lembranças e, quem sabe, participei de alguma foto de alguém?

Os souvenirs são, sem dúvida, uma parte boa de minhas viagens e, atualmente, que não tenho podido mais viajar, eles me transportam àquelas que já tive o privilégio de fazer em boas companhias e conhecer lugares que são particularmente integrados ao meu ser. Em conjunto, de uma certa forma, esses pequenos adornos e o acervo fotográfico que tenho em meu HD externo contam uma boa parte de minha história.

Que meus elefantinhos (e os nem tão pequenininhos assim! Rs.) possam manter essa longa e bela memória de minhas aventuras e, claro, desventuras. Que as minhas borboletinhas possam fazer meu pensamento voar para aqueles belos e inesquecíveis lugares onde estive um dia. E que eu possa voltar a viajar um dia… quem sabe… talvez…

Mônica Baêta – 06abr2023