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Um livro, uma novela

Sou da época em que ainda existiam as novelas de rádio e as fotonovelas. Isso mesmo! Fotonovelas. As revistas traziam uma série fotográfica, feita com atores e texto em balões, nos moldes que se tem nas revistas em quadrinhos. Era tudo em preto e branco.

Lembro-me bem de ficar encantada com os sons que eram trazidos nas novelas de rádio. Eu acompanhava com a minha mãe quase todas as tardes. Eu ficava imaginando as cenas, ouvindo os diálogos carregados de emoção, prestando muita atenção aos ruídos de água, de patas de cavalos, de animais noturnos… Tudo era carregado de magia e mistério para aquele meu mundo ainda não alfabetizado.

A alfabetização não tardou e, aos 5 anos de idade, eu já era iniciada nas primeiras letras, por minha mãe e no ambiente doméstico. Mas a minha alegria de “noveleira” durou pouco, porque os primeiros anos escolares eu os frequentei em um grupo escolar cujas aulas eram exatamente à tarde. Assim que ingressei na escola, maravilhei-me com as leituras e passei a querer devorar tudo que era dotado de letras, palavras e saberes.

Meu sonho de consumo, à época, passou a ser, então, ler a fotonovela preferida de minha mãe, “Uma vida e três amores”. Mas ainda era uma leitura “proibida” para mim, o que aguçava ainda mais a minha curiosidade. Infelizmente, antes de eu chegar à fase em que já seria autorizada a ler aquele tipo de fotonovela, a revista – desgastada pelo tempo e, provavelmente, pelas inúmeras leituras feitas por minha mãe e pelas amigas dela – já havia desaparecido. Talvez tenha ido parar no lixo ou tenha sido doada em alguma gincana, algo comum no final dos anos de 1960, início dos anos de 1970.

Pode até parecer que é saudosismo de minha parte, mas não é. Trata-se de uma associação que acabei fazendo – em minhas inúmeras elucubrações -, pois eu venho protagonizando uma verdadeira novela nos últimos meses.

Já faz alguns anos que eu me inscrevi (ou associei, não sei bem ao certo o que seria correto dizer) a uma dessas empresas virtuais que faz a mediação entre os ávidos leitores e aficionados por livros (o meu caso – duplamente!) e os vendedores que nos buscam, porque os mantemos de pé.

Esse vínculo salvou-me inúmeras vezes no período pandêmico pelo qual todos passamos recentemente. Acontece que, em junho deste ano, começou a novela da qual eu falo.

O primeiro capítulo foi no dia 15/06/23, quando eu entrei no site que faz a tal mediação entre nós, leitores, e os livreiros, localizei o livro que me interessava para minha pesquisa e, junto com outro de um mesmo livreiro, fiz a compra.

O segundo capítulo foi alguns dias depois – no limite superior da entrega – quando em vez de virem os dois livros daquele livreiro, veio apenas um. Eu me dei conta dois dias depois, quando fui conferir os livros que usaria para dar seguimento à escrita que venho desenvolvendo.

Iniciei o capítulo quarto da novela entrando em contato com a empresa responsável por essa mediação, explicando que, em lugar de receber dois livros comprados do livreiro “X”, eu havia recebido apenas um.

O detalhe relevante nesse intervalo entre os dois capítulos anteriores, foi que eu verifiquei o código de rastreamento informado pelo livreiro e lá constava o envio de dois livros. Talvez pudesse entender esse episódio como “cenas do próximo capítulo”!

A partir daí, os capítulos foram se desenrolando sem uma boa evolução da novela e, com isso, nada de eu ter o livro desejado em minhas mãos para folheá-lo, devorá-lo.

Ah! Eu já me esquecia de contar que teve um capítulo “especial” em que o livreiro tentou se safar da trama, alegando haver postado os dois livros de forma separada, o que não convenceu nem ao idealizador da obra, nem aos leitores da novela.

Muitos capítulos depois, o vendedor da livraria que alegava ter enviado dois livros, informou à mediadora entre mim e ele que havia comprado um exemplar que era cobrado por mim e o postou em data que informou.

Todavia, no capítulo consecutivo, ainda não haviam sido atualizadas as chamadas para os próximos, e o site não trazia nenhum informe sobre esse novo envio.

Como protagonista dessa novela, eu me sentia muito desconfortável com a situação, não apenas por não deter o material que era – literalmente – a prova do crime do livreiro (falso testemunho!), mas porque eu estava (não! Eu estou!) sendo confrontada com um mentiroso e, com isso, a mediadora pode estar entendendo que a mentirosa sou eu e não ele!

Mas ainda me restam alguns recursos, caso haja essa acareação: os Correios registram o peso do pacote que é enviado. Certamente, como eu tenho o livro recebido desacompanhado do segundo cuja pendência de sua chegada prossegue, poderei provar que o peso dele é correspondente ao constante nos documentos da empresa que o entregou.

Ainda sem vislumbrar o final dessa novela e sem ter em mãos o livro de que tanto preciso, passei por mais alguns momentos cruciais, pois o livreiro afirmou categoricamente ter feito “nova” postagem do livro cuja demanda pela chegada a minha casa se delonga. Como expirou o prazo máximo para tal, fiz novo contato com a mediadora, pois, claro, o livro não chegou!

A surpresa maior é o fato de a mediadora ter me informado que consta a entrega do livro no último dia 03/08 (sem necessidade de assinatura – outro fato desnorteador) e ter repassado a mim a responsabilidade de rastrear: caixa de correio, jardim, varanda, garagem, parentes (que possam ter recebido e não ter entregue a mim, quiçá, deslumbrados com o tema da pesquisa: “narrativas de vida”), vizinhos… Faltou citarem a possibilidade de animais terem destruído e o lixeiro ter levado sem que eu sequer me desse conta; ou algum desavisado ter visto lançado no piso da varanda e ter “pescado” achando que era uma entrega de alguma joia… Não que eu não considere os livros joias raras, mas cá pra nós!…

Resumindo a história que, tal e qual a (não) entrega do livro, já se delonga, virei noveleira! Como diria minha mãe (que Deus a tenha!): “Durma com um barulho desses!”.

MoBa NePe – 09ago2023